Trombofilia e gravidez: a condição silenciosa que pode comprometer a maternidade

A trombofilia, muitas vezes desconhecida, pode afetar a gestação em diferentes fases; diagnóstico precoce e tratamento adequado são fundamentais para garantir uma gravidez segura

  • Por Brazil Health
  • Por Jovem Pan

Muitas pessoas ouviram falar de trombofilia pela primeira vez durante a pandemia de covid-19, já que a infecção provocava em parte dos pacientes um aumento da coagulação, levando a eventos como trombose, derrames ou infartos. Mas a trombofilia é uma condição que vai além: como o próprio nome indica, trata-se da tendência aumentada de formação de trombos (coágulos) em diversas partes do corpo.



A trombofilia pode ser hereditária — quando transmitida geneticamente — ou adquirida, surgindo após doenças como a covid-19 ou condições autoimunes, como a síndrome do anticorpo antifosfolípide. Entre as formas hereditárias, destacam-se a mutação do fator V de Leiden e a mutação do gene da protrombina. Ambas alteram mecanismos naturais da coagulação, favorecendo o aparecimento de trombos em situações de maior risco, como a gestação.


Trombofilia e seus impactos na gravidez


Na vida da mulher, a maior chance de trombose ocorre justamente durante a gestação e no puerpério, que abrange as primeiras seis semanas após o parto. A gravidez, por si só, é uma fase em que o sangue se torna mais propenso à coagulação — uma adaptação natural do corpo para prevenir hemorragias. No entanto, em mulheres com trombofilia, esse risco é amplificado.

A presença de trombofilia pode levar a complicações como:


  • abortamentos recorrentes no primeiro trimestre
  • doença hipertensiva da gestação (pré-eclâmpsia)
  • restrição do crescimento intrauterino
  • descolamento prematuro da placenta
  • óbito fetal tardio

Em fases mais avançadas da gestação, tromboses placentárias (infartos da placenta) podem comprometer o bem-estar fetal, exigindo monitoramento intenso e, muitas vezes, antecipação do parto.


Quando suspeitar e como diagnosticar


Deve-se suspeitar de trombofilia hereditária diante de histórico pessoal ou familiar de trombose — principalmente se os eventos ocorreram antes dos 50 anos — ou em mulheres que enfrentaram complicações gestacionais, como duas ou mais perdas gestacionais consecutivas, restrição de crescimento fetal ou pré-eclâmpsia grave.

O diagnóstico é realizado por meio de exames de sangue específicos, que devem, idealmente, ser coletados fora do período gestacional ou durante pausas no uso de medicamentos anticoagulantes para maior precisão.


Tratamento e cuidados essenciais


Após o diagnóstico, o tratamento inclui o uso de anticoagulantes, como a heparina de baixo peso molecular, que é segura durante a gravidez, e o ácido acetilsalicílico em baixas doses. O objetivo é reduzir o risco de trombose placentária e favorecer a evolução saudável da gestação.

O acompanhamento deve ser feito por obstetra especializado em gestações de alto risco, com monitoramento rigoroso da mãe e do feto durante toda a gravidez e no pós-parto.

Além disso, é importante reconhecer e prevenir outros fatores que aumentam o risco de trombose, como:


  • viagens aéreas prolongadas
  • infecções
  • períodos de imobilização
  • uso de anticoncepcionais ou hormônios para tratamento de infertilidade

Medidas simples, como a utilização de meias de compressão e a prática de movimentação regular em viagens longas, podem ser orientadas pelo médico para minimizar esses riscos.


Considerações finais


Embora a trombofilia seja uma condição silenciosa, seu impacto na gravidez pode ser significativo. O diagnóstico precoce, o planejamento da gestação e o tratamento adequado aumentam consideravelmente as chances de sucesso reprodutivo e de uma gestação segura. Com a medicina moderna e o acompanhamento correto, mulheres com trombofilia podem realizar o sonho da maternidade de forma saudável e segura.


*Por Dani Ejzenberg (CRM 100673)
Ginecologista e especialista em Reprodução Assistida – Clínica Nilo Frantz

Avanços da robótica na neurocirurgia: um futuro cada vez mais real

A aplicação de braços robóticos em procedimentos neurológicos promete transformar a precisão e a segurança das cirurgias no cérebro e na coluna

  • Por Brazil Health
  • Por Jovem Pan

A neurocirurgia é conhecida por ser uma especialidade que demanda elevada precisão e rigor técnico, além de ser altamente vinculada ao uso de tecnologias avançadas e de alta complexidade, como microscópios, endoscópios, neuronavegadores e implantes de neuromodulação. No campo da robótica, entretanto, embora um dos primeiros procedimentos do tipo tenha sido realizado em uma neurocirurgia, seu uso ainda não se tornou corriqueiro como em outras áreas da medicina, como a urologia, ginecologia e cirurgia abdominal.

Uma das maiores dificuldades é a necessidade de um nível de precisão e controle de movimento ainda mais delicado do que em outras áreas cirúrgicas, permitindo que o cirurgião possa operar o robô de forma remota, como ocorre em outras especialidades.


Novas tecnologias e o papel da estereotaxia


Nos últimos anos, esse panorama vem se modificando rapidamente, com o desenvolvimento, por diversas empresas de tecnologia médica ao redor do mundo, de robôs tarefa-específicos, tanto para cirurgias cranianas quanto para cirurgias funcionais e de coluna. Alguns levantamentos sugerem que, mesmo em países como os Estados Unidos ou da União Europeia, menos da metade dos centros de treinamento universitários em neurocirurgia já incluem algum tipo de robô em seu treinamento habitual. No Brasil, alguns centros começaram a trazer essa inovação ao longo dos últimos dois anos. Dentre todos os procedimentos neurocirúrgicos, dois campos se destacam na evolução da robótica: o implante de eletrodos cerebrais e a cirurgia de coluna.


No tratamento de doenças como Parkinson, distonia e epilepsia, muitas vezes é indicado o implante de um eletrodo cerebral profundo, que será conectado a um gerador que realizará uma função semelhante à de um marca-passo cerebral. Considerando que o implante desses eletrodos deve ser extremamente preciso, tanto para obter o efeito desejado quanto para não causar danos indesejados, é utilizada uma técnica de localização chamada estereotaxia, que permite, por meio de coordenadas precisas, localizar exatamente a área do cérebro em que o eletrodo deve ser inserido. Com o uso de braços robóticos, pode-se aumentar a precisão, a velocidade e a segurança do procedimento, melhorando, por consequência, o resultado para os pacientes.


O avanço dos robôs na cirurgia de coluna e novas fronteiras


No caso das cirurgias de coluna, especialmente naquelas em que é necessário o implante de parafusos (os famosos pinos e placas de artrodese), a necessidade de precisão recai sobre a preservação da estrutura óssea que irá ancorar o material e evitar danos às estruturas neurológicas ao redor. O uso de radiografias, tomografias e, mais recentemente, da neuronavegação tem permitido cirurgias menos invasivas e com menor risco de falha.

Em 2020, durante visita a um grande centro americano, pude observar uma versão ainda rudimentar de um braço robótico que unia as técnicas já disponíveis até então para melhorar a segurança e o tempo desses procedimentos. Hoje, cinco anos depois, com grande prazer, vejo que já temos no Brasil uma versão aprimorada dessa tecnologia, disponível ainda em poucos locais, mas que já demonstra grande valor para as cirurgias de coluna. Os novos robôs permitem cortes menores, cirurgias mais rápidas e com a mesma efetividade da cirurgia tradicional.



Algumas outras áreas promissoras, ainda sem previsão de implementação no país, envolvem robôs para procedimentos endovasculares, tratamentos oncológicos utilizando laser de alta frequência e robôs para mapeamento cerebral, biópsias e a combinação de robótica com endoscopia — em todos os casos, permitindo cirurgias minimamente invasivas e precisas.

Finalmente, embora a maioria dos robôs neurocirúrgicos funcione hoje como auxiliares e guias de posicionamento, diversos esforços se concentram na criação de um braço robótico que possa ser operado de forma remota, permitindo a realização de procedimentos nos quais o neurocirurgião possa controlar diretamente a execução da cirurgia, como ocorre em outras especialidades. Com o crescimento dos dispositivos que incorporam inteligência artificial, o desenvolvimento de novos materiais e o aumento da potência computacional, esse futuro parece cada vez mais próximo.



Cesar Cimonari de Almeida – CRM 150620-SP/RQE 66640
Neurocirurgião

Entenda como vai funcionar a venda de canetas emagrecedoras após a decisão da Anvisa

Medicamentos, que são classificados como tarja vermelha, agora só poderão ser adquiridos mediante a apresentação de uma receita médica

  • Por Jovem Pan

Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) anunciou recentemente novas diretrizes para a comercialização de canetas emagrecedoras, como Ozempic, Wegovy, Saxenda e Monjaro. Esses medicamentos, que são classificados como tarja vermelha, agora só poderão ser adquiridos mediante a apresentação de uma receita médica. A receita deverá ser emitida em duas vias, sendo que uma delas ficará retida na farmácia. Além disso, a validade das receitas será de até 90 dias a partir da data de emissão. Essa decisão tem como objetivo restringir o uso inadequado desses medicamentos e promover uma prescrição consciente, baseada em critérios clínicos e científicos.



A implementação dessas novas regras foi motivada por preocupações levantadas pelo Conselho Federal de Medicina, que destacou a necessidade de um controle mais rigoroso na indicação dessas drogas. Daniel Pereira, diretor da Anvisa, esclareceu que a proposta não interfere no exercício profissional dos médicos, mas busca garantir que o uso dos medicamentos ocorra sob supervisão, minimizando os riscos de eventos adversos. A Anvisa enfatiza a importância de proteger a população do uso indiscriminado desses emagrecedores, que foram desenvolvidos originalmente para o tratamento de diabetes, mas que são frequentemente utilizados para fins de emagrecimento.


Durante uma reunião da Anvisa, Thamires Cappelo, pesquisadora do Centro de Pesquisa de Direito Sanitário da USP, apresentou dados alarmantes: 45% das compras desses medicamentos são realizadas sem prescrição médica, e 56% dos usuários os utilizam para emagrecimento, sem qualquer relação com diabetes. Destes, 37% possuem um Índice de Massa Corporal (IMC) normal, o que indica um desvio de finalidade. Rômison Rodrigues Mota, diretor-presidente substituto da Anvisa, alertou sobre os riscos do uso estético desses medicamentos, que são amplificados pela desinformação nas redes sociais. A endocrinologista Priscila Martins reforçou a necessidade de acompanhamento médico no tratamento da obesidade, uma doença multifatorial.


A atualização da norma será publicada em breve no Diário Oficial, e a nova regra entrará em vigor 60 dias após a publicação. Essa medida visa garantir que o uso de canetas emagrecedoras seja feito de maneira segura e responsável, protegendo a saúde da população e assegurando que esses medicamentos sejam utilizados para os fins para os quais foram originalmente desenvolvidos.


*Com informações de Danúbia Braga

*Reportagem produzida com axiu